A instalação da
Comissão da Verdade abre uma nova frente de luta para a juventude brasileira.
Ao afirmar que “o Brasil e as novas gerações merecem a verdade”, a presidenta
Dilma reforça uma dimensão fundamental desta luta, que é a importante
participação dos jovens na efetivação do direito à memória, à verdade e à
justiça no país.
O êxito dos trabalhos da comissão dependerá
fundamentalmente da mobilização popular. A ampliação das lutas sociais pelo
direito à verdade deve estimular a criação de comitês pela verdade e justiça
nos estados, municípios e outras instâncias envolvidas com o tema. Deve
apontar, ademais, para a retomada da luta pela punição dos agentes estatais e
comandantes dos atos de tortura, assassinatos e desaparecimentos cometidos
durante o período ditatorial.
Além disso, a juventude deve denunciar as
tentativas de setores militares e veículos de comunicação que buscam
descaracterizar o papel da Comissão, sugerindo a investigação dos “dois lados”
e dos “crimes da esquerda”. Os trabalhos da comissão devem ser dotados de
recursos e estrutura adequada para seu pleno funcionamento e focados sobre a
violência praticada por agentes do Estado contra os que resistiram a
ditadura civil-militar implantada no Brasil.
Enfrentar este tema é também denunciar a cultura
de impunidade e violência herdada do período ditatorial e entranhada nas
corporações policiais e militares ainda vigente no país, não raro vitimando os
jovens com as armas do Estado. No Brasil, mais da metade da população
carcerária é composta de jovens de 18 a 29 anos e de acordo com dados do
Ministério da Saúde, do total de homicídios no país em 2010, 26.854 das vítimas
eram jovens de 15 a 29 anos, ou seja, 53,5% do total. Destes, 74,6% eram
negros.
A Comissão da Verdade chega com o atraso de anos
de impunidade e como resultado da mobilização dos movimentos sociais, ativistas
de direitos humanos, familiares de mortos e desaparecidos e também pela pressão
e exigência de vários fóruns internacionais. Sua instalação – uma decisão
acertada dos governos de Lula e Dilma - ocorre num contexto de mobilizações em
vários estados do país, desde os “esculachos” contra os agentes da ditadura até
manifestações em escolas, ruas e espaços públicos que envergonham a democracia
homenageando ditadores e cúmplices do regime.
Uma das marcas dessas recentes mobilizações é a
presença expressiva de jovens, sinalizando que para as novas gerações, o
direito à memória e à verdade não se trata apenas de um olhar sobre o nosso
passado, mas de uma condição necessária para que não esqueçamos o que aconteceu
e que não se repitam as violências praticadas contra a liberdade e a democracia
no presente e no futuro.
Afinal, são sobre os jovens as maiores
tentativas de impor o esquecimento deste período histórico. Nascidos nos idos
dos anos 1980, quando da transição pelo alto do regime ditatorial para a “nova
república”, a atual geração de militantes sociais reconhece que lutar pelos
direitos negados aos jovens que tombaram e foram vítimas da violência estatal
de ontem, é garantir os direitos e a liberdade dos jovens de hoje.
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